meus dedos me pediram, hoje, pra perfazerem teus contornos
para tocarem os adornos - teus cabelos, sobrancelhas
tocar tua boca , teus olhos mesmo fechados
teu rosto envergonhado, teu queixo, o teu pescoço
causando um alvoroço no tato dessas falanges
o toque em teus ombros, braços, até a palma de tuas mãos
desenhar um coração com o dedo, como caneta
então, qual leve borboleta, suave como suas asas
tocar teus pés, e como brasa, me aquecer subindo tanto
tornozelos , joelhos, pernas indecentes
me diz se também não sentes esse mesmo arrepio
quanto olho e acaricio o interior de tuas coxas?
se a vida, que era cinza e pouca, não fica toda colorida?
e se minha mão for atrevida e tocar-lhe um tanto mais?
será que efeito isso faz nessas almas tão sedentas?
tocar de maneira lenta, desenhando os arredores
desses tão melhores que qualquer artista há feito
se os traços tão perfeitos riscassem a minha palma
levariam toda calma, deixariam o desespero
se eu seguisse, caminhando, descesse por tua barriga
anjo, amado, meu amigo, deixa então correr a pele
de uma forma que revele a planície de tuas costas
deita em meu peito, encosta: inda faltam alguns lugares
mas como acaba meu papel, se fosse explícito o cordel
roubaria nossos ares....